Imigração Transnacional

Introdução

Imigrante transnacionalismo pode assumir várias formas, como telefonemas regulares que os brasileiros em New York ou Boston fazem para os seus familiares em São Paulo ou Governador Valadares, as operações diárias de venda de casas no Brasil feitas por corretores de imóveis brasileiros em Massachusetts, ou as remessas de dinheiro para ajudar as suas famílias que ficaram nos seus países de origem. Em termos gerais, transnacionalismo refere-se ao envolvimento regular dos imigrantes em atividades que ultrapassam as fronteiras nacionais como parte de suas rotinas diárias envolvendo suas vidas no exterior. É importante notar que esta definição distingue o envolvimento regular em atividades econômicas, políticas e sócio-culturais de engajamentos mais ocasionais ou pontuais, como a rara viagem ao país de origem ou de uma operação de transferência monetária esporádica.

Sambistas brasileiros desfilam no festival annual “Asakusa Carnaval” em Tóquio – 27/08/2005 – (AP Foto/David Longstreath ).

Este conceito é relativamente novo na medida em que procura captar a participação frequente e duradoura dos imigrantes na vida econômica, política e cultural dos seus países de origem, um fenômeno só possível, na escala de hoje, graças aos avanços das tecnologias de transporte e comunicação ao longo das últimas três décadas.[1]
As atividades transnacionais não estão necessariamente presente em todos os grupos de imigrantes e variam de grupo para grupo e entre imigrantes de um mesmo grupo tanto na sua extensão quanto na intensidade destas. Estas atividades não se dão em oposição a integração dos imigrantes nas sociedades receptoras. Na realidade, vários pesquisadores tem mostrado que quanto mais integrados mais relações transnacionais eles desenvolvem. Por exemplo, Professor Alejandro Portes em suas pesquisas encontrou que os imigrantes mais integrados são mais propensos a estabelecer atividades transnacionais.[2

 

Imigrantes Europeus do Século IXX.

A razão porque o transnacionalismo merece atenção é o seu crescimento absoluto nos últimos anos e o fato de que a sua presença é altamente relevante para o funcionamento das cidades globais. Por isso, um “framework” transnacional permite a criação de políticas transnacionais capazes de delinear programas públicos e parcerias público-privadas além fronteiras. Por causa das implicações econômicas destas relações transnacionais, oportunidades se abrem para empresas, empreendedores sociais e governos inovadores.
As atividades transnacionais conformam uma gama de alternativas capazes de criar caminhos mais promissores para a criação de riqueza através do empreendedorismo e do emprego. Elas podem ainda promover maiores níveis de multiculturalismo via a criação e preservação de formas culturais híbridas. O transnacionalismo tem ainda implicações importantes para as noções de comunidade, identidade e desenvolvimento econômico.
Finalmente, a integração transnacional desafia as teorias tradicionais de assimilação que assumem que os imigrantes mais “assimilados” são menos susceptíveis de envolverem-se nas esferas econômica, social e política dos seus países de origem.

Atividades Transnacionais e Campos Sociais

Quando os imigrantes desenvolvem atividades transnacionais, eles criam “campos sociais” que ligam seus países de origem com seus países de residência. Estes campos sociais são produto de

 

Fonte: Alvaro Lima. Transnationalism: A New Mode of Immigrant Integration. 2010.

uma série de atividades econômicas, políticas e sócio-culturais interligadas e sobrepostas:

  • Atividades econômicas transnacionais tais como investimentos empresariais nos países de origem e as remessas monetárias são bem documentadas. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estima que em 2006 os imigrantes que vivem nos países desenvolvidos enviaram para casa o equivalente a $300 bilhões em remessas, uma quantia superior ao dobro da ajuda internacional para o desenvolvimento. Em essência, este afluxo intenso de recursos pode significar que, para algumas nações, as perspectivas de desenvolvimento se tornam inextricavelmente ligadas, se não dependente, das atividades econômicas de suas respectivas diásporas;

As remessas de dinheiro são somente a ponta do iceberg transnacional.

  • Atividades políticas transnacionais podem variar desde a afiliação a partidos políticos, votação em eleições, ou a disputa a cargos políticos nos seus países de origem. Outras atividades, menos formais, mas importantes, incluem a disseminação de idéias políticas e normas, como a publicação de editoriais, publicação de comentários em blogs ou lobbying em seus locais de origem. Há também exemplos extremos de pessoas como Jesus Galvis, um agente de viagem na New Jersey, que em 1997 concorreu a uma vaga no Senado na Colômbia, seu país natal. Se tivesse sido eleito, o que não ocorreu, pretendia ocupar seus cargos simultaneamente em Bogotá e Hackensack na New Jersey, onde era vereador;
  • Atividades sócio-culturais transnacionais cobrem uma ampla gama de relações sociais e culturais através das quais idéias e significados (meanings) são trocados. Uma pesquisa recente demonstrou a importância das “remessas sociais” que criam formas distintas de capital social entre os migrantes e aqueles que permanecem em casa. Estas transferências de significados e práticas sócio-culturais ocorrerem durante visitas que os imigrantes fazem aos seus países de origem (ou visitas feitas por não-migrantes a amigos e familiares vivendo no exterior) ou ainda através de correspondências via e-mails, chatrooms, ligações telefônicas e cartas.

Dizer que os imigrantes “constroem” campos sociais que ligam pessoas no exterior a pessoas nos países de origem, não quer dizer que os imigrantes não estão firmemente enraizados nas comunidades onde vivem. Na verdade são tão membros destas comunidade como qualquer outro morador. A diferença é que suas vidas diárias dependem também de pessoas, dinheiro, idéias e outros recursos localizados nos seus países de origem.
Estes campos sociais transnacionais compreendem então, conjuntos estáveis, duráveis e densos de relações – econômicas, políticas e sócio-culturais – que vão além das fronteiras de estados soberanos.
A geografia desses campos sociais transnacionais variam significativamente, dependendo de fatores como gênero, classe social e os contextos de saída do país de origem ou os modos de incorporação nos países receptores. Além disto, a estrutura destes campos sociais não são simplesmente relações unidimensionais entre uma comunidade vivendo no exterior e estas dos seus país de origem mas também entre estas comunidades imigrantes vindo de um mesmo país e vivendo em países diferentes.

Contextos de Saída e de Incorporação

Os contextos de saída assim como os modos de incorporação podem facilitar ou dificultar, promover ou desencorajar atividades transnacionais. Os países receptores muitas vezes desempenham um papel central definindo os limites da inclusão, exclusão e cidadania ou permitindo ou proibindo formas de mobilização política dentro de suas fronteiras. Porter et. al. dão um exemplo ilustrativo destes processos no seus estudos comparativos entre imigrantes colombianos e dominicanos vivendo nos Estados Unidos. Ambas populações vem da América Latina e partilham além da língua, muitos traços culturais. No entanto, seus contextos de saída e recepção traduzem diferente realidades de incorporação a sociedade americana e suas atividades transnacionais.

Fonte: Alvaro Lima. Tranasnationalism: A New Mode of Immigrant Integration. 2010.

Suas pesquisas revelaram que os imigrantes colombianos tendem a emigrar de áreas urbanas e tem níveis mais elevados de educação do que os outros imigrantes latinos. Estes imigrantes deixam a Colômbia muitas vezes por causa da violência e pela deterioração das condições econômicas e políticas. Além disto, a maioria dos imigrantes colombianos são brancos ou mestiços de cor clara e, assim, escapam as formas mais maliciosas de discriminação sofrida por grupos não-brancos na sociedade americana.
Os dominicanos por outro lado, são oriundos principalmente da classe trabalhadora, com um número significativo de profissionais de classe média e empresários. A partida é quase sempre motivada por circunstâncias econômicas ou busca de novas oportunidades. No entanto, porque a República Dominicana é um país predominantemente mulato com uma classe superior branca que não emigra, os imigrantes dominicanos são na sua maioria negros ou mulatos e, portanto, enfrentam discriminação significativa ao atingir os Estados Unidos.
O “Comparative Immigrant Entrepreneurship Project” analisou dados recolhidos a partir de um levantamento dessas comunidades para testar a hipótese sobre o impacto dos contextos de saída e modos de incorporação sobre o caráter do transnacionalismo imigrante. A equipe chefiada por Portes encontrou diferenças significativas na participação transnacional destes dois grupos:

  • Os grupos que migram de áreas rurais tendem a formar comitês cívicos apolíticos em apoio das localidades que deixaram para trás (hometown associations). Por outro lado, os imigrantes que vem de ambientes mais urbanos, muitas vezes se envolvem na política nacional e na vida cultural dos seus países, especialmente quando se trata de filiação com partidos políticos nacionais;
  • Contextos de recepção também tem uma forte influência no que diz respeito ao caráter das atividades transnacionais. Quando um grupo de imigrantes encontra-se discriminado, os seus membros, muitas vezes, se unem e adotam uma postura defensiva em relação ao país de acolhimento, apelando coletivamente para símbolos de orgulho cultural ou nacional do seus países de origem. No entanto, quando a discriminação é ausente atividades transnacionais tornam-se mais individualizadas com as organizações adotando perfis de “classe média” como os consagrados clubes Kiwanis, Lions ou outras associações de caridade orientadas para a prestação de serviços sociais;
  • O papel dos governos nacionais é variado, mas eles estão cada vez mais ativos no moldar desses contextos. Alguns governos dos países de origem aprovaram leis permitindo que os migrantes mantenham a sua cidadania, possam votar e até mesmo concorrer a cargos políticos, embora vivendo em outros países. Alguns consulados, a pedido dos seus governos, tem assumido posições proativas em relação as comunidades imigrantes dos seus países, prestando assistência jurídica, aulas de Inglês além de outros serviços.

Globalização, Imigração e Transnacionalismo

O transnacionalismo tem implicações importantes para o entendimento dos processos migratórios. Tradicionalmente, estes processos tem sido vistos como processos autônomos, impulsionados por condições de pobreza ou superpopulação em um determinado país, sem relação estreita com as políticas externas, necessidades econômicas, ou interesses geopolíticos dos países receptores. Estagnação econômica, superpopulação e pobreza criam pressões que alimentam a migração, mas, por si só, não são suficientes para produzir grandes fluxos migratórios internacionais. Há países, por exemplo, que apesar de longa história de pobreza não exibem emigração significativa. Além disso, há países com níveis elevados de emprego, que continuam a testemunhar processos migratórios em grande escala.

Fonte: Alvaro Lima. Imigrantes Residentes nos Países da OECD Oriundos dos Países em Desenvolvimento. 2010.

A realidade é que não é seguro assumir que os motivos para a migração existem unicamente no interior dos países de origem. Estes estão também embutidos em dinâmicas geopolíticas e globais. Evidências abundantes de padrões geográficos migratórios sugerem que os países receptores acolhem, na sua maioria, emigrantes dos países das suas “zonas de influência.” Estes processos migratórios são, assim, um componente fundamental da globalização.
Há relações sistemáticas e estruturais entre globalização e migração. O surgimento de uma economia global tem contribuído tanto para a criação de “pools” de emigrantes em potencial como para a formação de laços econômicos, culturais e ideológicas entre os países industrializados e estes em desenvolvimento que, posteriormente, servem de pontes para a migração internacional.

Fatores Impulsionadores do Transnacionalismo

Um dos fatores principais no crescimento do transnacionalismo foi o desenvolvimento de tecnologias que tem tornado o transporte e comunicação infinitamente mais acessível e disponível para os

Fonte: Alvaro Lima. Tranasnationalism: A New Mode of Immigrant Integration. 2010.

imigrantes, mudando assim radicalmente a relação entre pessoas e lugares. Hoje, os imigrantes podem manter contato frequente com as suas sociedades de origem como nunca antes.
Outro fator chave no desenvolvimento do transnacionalismo tem sido o fato de que as migrações internacionais tornaram-se cada vez mais parte integrante do futuro demográfico de muitos países desenvolvidos. Além de simplesmente preencher uma demanda por mão-de-obra, a migração também preenche o vazio criado pelo declínio das populações da maioria dos países industrializados. Hoje, a migração é responsável por 3/5 do crescimento da população dos países ocidentais como um todo. Essas tendências não mostram nenhum sinal de desaceleração.
Além disto, transformações políticas globais e novos regimes jurídicos internacionais tem enfraquecido o Estado como a única fonte legítima de direitos. A descolonização, juntamente com a queda do bloco comunista e a ascendência do regime de direitos humanos tem forçado os estados a lidar com as pessoas enquanto pessoas, ao invés de somente enquanto cidadãos. Assim, mais e mais, as pessoas tem direitos independentemente de serem ou não cidadãos de um país.
Houveram também mudanças culturais, promovidas pela produção e consumo mundial, obscurecendo a distinção entre o que é nativo e o que é estrangeiro, fomentando processos de hibridação que tomam o lugar do romanticismo folclórico e do nacionalismo político como essência dominante da cultura nacional.

Implicações Gerais do Transnacionalismo

Devido à sua crescente presença e domínio no cotidiano de vários imigrantes e suas comunidades tanto nos países de acolhimento quanto estes de origem, há uma série de implicações que podem ser resumidas de forma geral pelos princípios a seguir:

  • Portabilidade – como os imigrantes transnacionais movem-se de um lugar para outro, é essencial que eles sejam capazes de “levar” com eles suas credenciais profissionais, seguro de saúde, planos de aposentadoria, etc. fazendo assim da portabilidade um princípio importante no desenho de políticas, programas, e projetos voltados para este segmento da população;
  • Transmissibilidade – além de serem capazes de “levar” as suas credenciais, registros e benefícios, estes devem ser transferíveis, isto é, serem reconhecidos, tanto nos locais de origem quanto de destino. Portabilidade e Transmissibilidade se complementam;
  • Visibilidade – embora as atividades dos empresários transnacionais imigrantes tenham contribuído significativamente para a revitalização de cidades, bairros, e comunidades de vários países receptores, eles continuam presos a rótulos étnicos tornando-os invisíveis enquanto imigrantes transnacionais com necessidades e contribuições únicas. Por exemplo, os sistemas de apoio empresarial criados por governos locais, estaduais, ou federais, são baseados em conceitos de economias éticas ou de encavale;
  • Hibridismo – estados-nação, tanto nos países de origem quanto nos países de acolhimento, tem de adaptar-se às realidades transnacionais que desafiam noções tradicionais de identidade nacional e de pertença. Comunidades transnacionais criam culturas híbridas. O ideal de uma nação-estado “contendo” o seu povo através de laços comuns linguísticos, culturais e étnicos já não se aplica;
  • Translocalidade – os conceitos de “comunidade” e “desenvolvimento local” devem ser entendidos em termos de relações e fluxos que se formam entre pessoas e grupos em vez de lugares semi-autárquicos.

Alguns governos já estão iniciando processos de mudança para acomodar os imigrantes transnacionais. Um número crescente de governos de países com grandes populações migrantes – das Filipinas ao México – estão a alterando as suas políticas e práticas em relação a estes.

Transnacionalismo entre a População Brasileira

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Existem vários esforços acadêmicos para medir o fenômeno transnacional empiricamente. Entre eles, estão estes do Professor Alejandro Portes da Universidade de Princenton e os do Dr. Manuel Orozco, diretor do programa “Remittances and Development” da organização Inter-American Dialogue[1]. Este último desenvolveu um “framework” para medir as relações transnacionais entre imigrantes focando nos fluxos econômicos gerados por estes. Seu modelo, conhecido por “6Ts,” inclui remessas (remittance transfers), turismo (tourism), transporte (transportation), telecomunicações (telecomunications), comércio nostálgico (nostalgic trade) e investimentos transnacionais (transnational investiments). Este modelo foi utilizado para medir o transnacionalismo entre os imigrantes brasileiros[3] comparando-os com resultados de pesquisas anteriores dirigidas pelo Dr. Orozco entre imigrantes latino americanos e caribenhos.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Fonte: Alvaro Lima e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.

Questionários medindo estas variáveis foram ministrados a 250 brasileiros vivendo em Massachusetts em áreas de grande concentração destes. Os questionários foram administrados em português e incluíam perguntas dos questionários das pesquisas do Dr. Orozco (2003 e 2006) para que os resultados fossem comparáveis. A amostra das pesquisas do Dr. Orozco incluíram nicaraguenses, dominicanos, bolivianos, mexicanos, salvadorenhos, guatemaltecos e jamaicanos.
As remessas de dinheiro são talvez o melhor exemplo e o mais bem conhecido comportamento transnacional. Os imigrantes dos países em desenvolvimento nos Estados Unidos enviam cerca de $150 bilhões de dólares por ano para as suas famílias, amigos, e comunidades dos seus países de origem. Cerca de 83 por cento dos imigrantes brasileiros vivendo em Massachusetts enviam dinheiro todo mês (50%), duas vezes ao mês (33,2%) e 9,2 por cento uma vez a cada três meses – um padrão consistente com os dos outros imigrantes latino americanos e caribenhos. No entanto, o valor das remessas dos brasileiros ($875 dólares mensais)[4] é muito maior do que a média dos outros imigrantes remetentes latino americanos e caribenhos.
As remessas são somente a ponta do icebergue transnacional. Quase metade dos brasileiros compram alimentos e especiarias brasileiras e um em cada cinco compra vídeos, DVDs, e CDs de origem brasileira. Quase 2/3 dos brasileiros responderam que telefonam para casa duas ou mais vezes por semana, por meia hora por cada ligação. A frequencia e duração dos telefonemas talvez estejam relacionados ao baixo número de imigrantes brasileiros que viajam para o Brasil – somente um em cada quatro – o que pode ser explicado pelo grande número de imigrantes brasileiros indocumentados no Estado.Setenta e dois por cento dos imigrantes brasileiros nunca viajaram para o Brasil, proporção esta, semelhante a esta dos cubanos, guatemaltecos, hondurenhos, colombianos, e nicaraguenses. Os dominicanos no entanto viajam a seu país uma ou duas vezes ao ano.
A vasta maioria assiste programas de televisão e rádio produzidos no Brasil. Quase três em cada quatro imigrantes brasileiros enviam ou recebem e-mails das suas famílias ou amigos no Brasil. O uso da internet pelos brasileiros é acima da média da dos outros imigrantes (72%), sendo igualados somente por esta da dos jamaicanos e dominicanos. Estes altos níveis de penetração da internet deve-se, talvez, ao alto grau de educação destes imigrantes. No caso dos brasileiros talvez o fato de que não possam viajar livremente para o Brasil aumente o uso de tal meio de comunicação.
Metade dos imigrantes brasileiros tem obrigações econômicas no Brasil. Mais de um quarto tem contas de poupança e 7 por cento tem empréstimos no Brasil. Um terço deles ajudam suas famílias para além das remessas que enviam, atrás somente dos guianêses. Assim como os outros imigrantes latinos e caribenhos, a ajuda está relacionada aos pagamentos de empréstimos imobiliários, escolares, e familiares. Além disto, os imigrantes brasileiros enviaram dinheiro para as suas famílias para despesas de investimento (39,5%) e planos de aposentadoria (15,2%).
Finalmente, somente um em cada quatro brasileiros (23,6%) votam nas eleições brasileiras o que expressa um grau de participação política bastante baixo. A sua participação em entidades de ajudas locais (hometown associations) é acima da média. A correlação positiva observada em estudos sobre outras comunidades imigrantes entre a participação nestas associações e as suas intenções de votar nas eleições dos seus países parece não existir no caso dos brasileiros.
Estes resultados preliminares nos leva a acreditar que os imigrantes brasileiros residentes em Massachusetts tenham um grau de transnacionalismo maior do que vários imigrantes latino americanos e caribenhos. No entanto, o transnacionalismo é um complexo fenômeno e deve ser medido não só economicamente mas também deve mensurar as atividades transnacionais políticas e sócio-culturais.

Referências

  1.  O conceito e a extensão do transnacionalismo são relativamente novos. Sua presença no entanto não o é. Durante as grandes imigrações do século IXX e início do século XX, muitos imigrantes recém-chegados aos Estados Unidos deixavam para trás seus familiares. Quase 80 por cento dos imigrantes italianos entre 1870 e 1910 eram homens que vieram sem suas esposas ou filhos. Muitos homens judeus também vieram para os Estados Unidos, por exemplo, sozinhos e, posteriormente, enviavam dinheiro para financiar a viagem dos outros membros da suas famílias. Entre 1900 e 1906, o New York Post Office enviou 12,3 milhões de ordens de pagamento individuais para outros países, com metade da quantia enviada destinando-se para a ItáliaHungria e países eslavos. (Foner, Nancy. “From Ellis Island to JFK.” Journal of American Ethnic History 21: 102-119.
  2.  Alejandro Portes. 2006. “Migration, Development, and Segmented Assimilation: A Conceptual Review of the Evidence,” in The Annals of The American Academy of Political and Social Science, Volume 610, March 2007.
  3.  Lima, Alvaro e Plastrik, Peter – A Profile of Brazilian Remitters in Massachusetts, July 2007.
  4.  Mesmo quando corrigindo para valores extremos ($3.000 dólares ou mais), o valor médio das remessas mensais dos imigrantes brasileiros é muito maior do que a media para os imigrantes latino americanos e caribenhos. A média para a mais recente transação foi de $747,8 e a mode de $500 dólares. Os meios para a transação mais recente é $ 747,78 eo modo de US $ 500. As medidas de assimetria (3,63) e curtose (18,82) confirmam que a distribuição é voltada para a esquerda.

Referências Bibliográficas