Brasileiros no Mundo
Alvaro Lima é Diretor de Pesquisas Econômicas e Sociais da Prefeitura de Boston. Foi Diretor de Pesquisas e Managing Director da Initiative for a Competitive Inner City (ICIC), uma organização fundada pelo Professor Michael Porter da Universidade de Harvard. Foi ainda Diretor de Desenvolvimento Econômico da Urban Edge, corporação dedicada ao desenvolvimento econômico comunitário. Anteriormente, trabalhou como Chefe do Departamento Econômico do Ministério da Indústria e Energia em Moçambique. No Brasil, exerceu o cargo de Coordenador Regional de Projetos de Desenvolvimento no Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). Alvaro possui Mestrado em Economia pela New School for Social Research.
INTRODUÇÃO
Historicamente, o Brasil pode ser considerado um país receptor de população. Ao longo da sua história acolheu imigrantes de vários países do mundo. De 1822 até 1949 o país recebeu cerca de cinco milhões de imigrantes, sobretudo portugueses, italianos e espanhóis além de japoneses, alemães, poloneses e sírio–libaneses. Pode-se identificar esse fluxo em três grandes correntes migratórias durante quatro períodos diferentes. O primeiro, de 1880 a 1903, quando entraram no país cerca de 1,9 milhão de europeus, sobretudo portugueses, espanhóis e alemães. O segundo, de 1904 a 1930, com entrada de outros 2,1 milhões, destacando-se entre eles a presença de italianos, poloneses, russos e romenos. No terceiro, de 1932 a 1935, vieram os imigrantes japoneses. Por fim, entre 1953 e 1960, registrou-se uma imigração significativa de espanhóis, gregos e sírio-libaneses. [1]
Depois desses grandes movimentos migratórios, o país se fechou, mantendo um fluxo líquido próximo a zero no intervalo entre o pós-guerra e os anos 1980.[2] Após um longo período de estabilidade migratória, na década de 1980, o Brasil experimentou pela primeira vez uma mudança negativa, passando de um país majoritariamente receptor a um país expulsor de população. [3]
No entanto, isso não quer dizer que o país tenha deixado de receber imigrantes. A partir da década de 1990, foi verificada a entrada de muitos imigrantes coreanos e latino-americanos[4]. Ao comparar os dados dos censos brasileiros de 2000 e 2010, é possível notar que o número de imigrantes internacionais não nascidos no Brasil nos anos 2010 era de 93.889, quase o dobro do apurado em 2000, quando este segmento totalizou 55.758 estrangeiros. Esse fluxo mais recente foi formado, sobretudo, por bolivianos, haitianos, angolanos, senegalêses, ganeses, portugueses e espanhóis.
O processo de emigração brasileira teve início na década de 1970 e sofreu crescimento abrupto ao longo da década de 1980. A década de 1990 representa um momento de estabilização relativa dos estoques com um declínio nos fluxos de saída. Esse processo retoma seu crescimento a partir de 2000. De acordo com o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais, mais de 2,5 milhões de brasileiros viviam fora do país em 1995. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estima que em 2022 havia cerca de 4,5 milhões de emigrantes brasileiros espalhados por todos os continentes.[5]
Os emigrantes brasileiros, ao contrário de vários outros grupos de emigrantes, não estão fugindo de condições de pobreza absoluta ou de guerras civis, assim como também não são refugiados políticos à procura de asilo.[6] A maioria deles são oriundos de zonas urbanas e da classe média e classe média baixa, tendo muitos alcançado o nível de educação universitária[7]. A exceção corresponde somente aos trabalhadores agrícolas e aos garimpeiros que partiram para as regiões fronteiriças do Brasil.
Os emigrantes brasileiros, particularmente os saídos na década de 1980, fugiam principalmente da crise econômica que assolou o país e tornou impossível para a classe média manter seu padrão de vida. A “década perdida,”[8] como ficou denominado esse período, além de conhecer hiperinflação, foi marcada por profundos índices de desemprego, baixos salários, alto custo de vida e recessão econômica.
A emigração brasileira assume cada vez mais um caráter transnacional, isto é, os emigrantes brasileiros mantêm relações econômicas, sociais e políticas cada vez mais robustas com o Brasil e entre si em diversos países, aumentando a complexidade e impacto econômico, como é o caso das remessas monetárias (remittances), e também das remessas sociais (social remittances), como idéias, comportamentos e valores. Tais conceitos subjetivos, assim como as remessas econômicas, passam por constante vai e vem e desafiam as noções rígidas de fronteiras e culturas nacionais.[10]
Por fim, o processo emigratório envolve não somente aqueles que deixam o país para viver no exterior, mas também aqueles que, terminadas suas jornadas em outras terras, voltam – os chamados retornados. As crises econômicas internacionais e as políticas restritivas dos países receptores têm contribuído de forma frequente para estes fluxos de volta.
POR QUE OS BRASILEIROS EMIGRAM
A década de 1960 foi para o Brasil um período de incertezas políticas e oscilações econômicas. Se por um lado os militares assumiam a condução do país em 1964, por outro, esse período proporcionou altos índices de crescimento. Entre 1962 e 1967, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,2%; seguido por um aumento de 10% entre 1967 e 1970; 12,4% entre 1970 e 1973, e 8,3% (menor percentual em nove anos) entre 1973 e 1976[11]. O rápido crescimento do PIB, sobretudo em função do setor industrial, foi acompanhado de grandes transformações econômico-sociais.
A partir de 1979, a economia brasileira começou a sentir o impacto do aumento da taxa de juros internacionais e do segundo choque do petróleo, fatores que ocasionaram a maxidesvalorização de 1979. Tal conjuntura econômica foi responsável por um aumento significativo da taxa de inflação, que ultrapassou 50% ao ano e chegou a superar a casa dos três dígitos ao final de 1979.
No começo da década de 1980, o país passou por uma forte recessão econômica marcada por altas taxas de desemprego que se estenderam até o final da década.[12] Durante essa década e início dos anos 90, verificou-se uma grande redução de postos de trabalho na economia brasileira e o crescimento do trabalho informal. Acoplado ao cenário de desemprego e precarização do trabalho, o ano de 1990 experimentou novamente um processo inflacionário que atingiu a taxa de 1.765% ao ano.
Por fim, as reformas econômicas do Presidente Fernando Collor de Mello trouxeram mais desencanto do que resultados, principalmente para as classes médias.[13]
A crise e o impacto da reestruturação da economia mundial afetaram o mercado de trabalho brasileiro nos anos 90 e provocaram a queda da mobilidade social brasileira.[14]
Entre 1990 e 1992, registrou-se uma redução de 19% no nível de emprego assalariado formal e uma elevação do trabalho por conta própria e do trabalho doméstico[15]. Assim, conforme salientam Patarra e Baringer (1995), a migração interna, que foi sempre um elemento de absorção do excesso de mão-de-obra das várias regiões do país, não mais garantiu a mobilidade social, induzindo uma parcela significativa da classe média, principalmente os mais jovens, a buscar novas oportunidades nos Estados Unidos, Europa e Japão.
A recuperação econômica entre 1993 e 1995 foi insuficiente para alterar esse quadro econômico. No final da década, os juros altos, o aumento do desemprego e a diminuição na produtividade mantiveram a situação de crise. O período do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2001) foi marcado por muitas mudanças na esfera internacional, tais como o fim da guerra fria, a intensificação do fenômeno da globalização, além de um quadro financeiro internacional instável – crises mexicanas, asiáticas, russas e argentinas que abalaram a economia brasileira.
Em anos mais recentes, crises econômicas e políticas além da violência urbana, levaram ao aumento crescente do fluxo de brasileiros que deixaram o país. As pessoas que haviam ascendido socialmente e formado uma nova classe média durante os governos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2011), passaram a ter dificuldades para manter a posição conquistada.
Brasileiros nos Estados Unidos: Meio Século (Re)fazendo a América (1960 – 2010)
Lançamento do Livro: Brasileiros nos Estados Unidos: Meio Século (Re)fazendo a América (1960 – 2010).Brasileiros nos Estados Unidos - Meio Século (Re)fazendo a América apresenta análises, até então não publicadas, além de organização de dados produzidos ao...
Fatores externos e internos contribuíram para desaceleração do crescimento da economia, mas foram os fatores domésticos que redundaram na crise que abalou todo o sistema de representação. Este processo foi agravado pelo golpe parlamentar que culminou no impedimento da Presidente Dilma Roussef, a ascensão da direita com projetos de ajuste econômicos, crise política constante, crescimento econômico anêmico, situação agravada ainda mais pela pandemia em 2020. A emigração atual deve-se, em grande medida, a uma morte da esperança.
Uma pesquisa Datafolha feira com jovens de doze capitais brasileiras em 2022 revelou que 76% deles têm muita ou alguma vontade de deixar o país para sempre. E quanto menor a idade maior o desejo: entre a população de 15 a 19 anos, que ocupa a menor fatia do mercado de trabalho, o patamar chega 85%.
Por fim, não podermos minimizar a importância de fatores como a violência urbana e a e as tensões sociais como motivos que influenciam a decisão de emigrar. Em várias pesquisas realizadas nos Estados Unidos, assim como em outros países, os emigrantes brasileiros apontam como causa importante da emigração a busca por uma vida melhor, objetivo este que engloba não só aspectos econômicos, mas também aspectos relacionados à qualidade de vida. Em pesquisa realizada pela empresa Synovate Brasil [16] em 2007, 55% dos emigrantes brasileiros entrevistados responderam que emigraram “à procura de uma vida melhor;” 12% alegaram ter emigrado para “recomeçar a vida;” 6% em busca de “melhor educação para os filhos;” e 4% “para fugir da violência.” Somente 24% emigraram por questões relacionadas a emprego. Desses, uma parte respondeu que foi em “busca de um salário maior” (11%); e outra em “busca de emprego” (10%). Um ano depois, a mesma empresa realizou uma nova pesquisa[17] para a Caixa Econômica Federal confirmando as mesmas razões para a emigração[18].
Complementando os estudos acerca das razões da emigração, outra pesquisa realizada entre brasileiros residentes em Massachusetts[19] indicou que 48% atribuíram como razão para a emigração a “busca por uma vida melhor” e 8% vieram “começar a vida” ou proporcionar uma melhor “educação aos seus filhos” (1%). Para 28% dos brasileiros entrevistados, as razões da emigração estiveram relacionadas ao trabalho, sendo que 20% emigraram “por um salário melhor” e 8% em “busca de emprego.”
A ETIAS Europa, em publicação recente, lista fatores como a violência, instabilidade política, crise econômica e baixa qualidade de vida estão entre as principais motivações para os brasileiros saírem do país. Do lado dos fatores de atração, a língua em comum no caso de Portugal, oportunidade de
trabalho e a busca por uma melhor qualidade de vida tornam atrativas as cidades européias.
Por outro lado, é necessário ressaltar que uma reestruturação no sistema produtivo das economias avançadas provocou um aumento da demanda por trabalhadores altamente qualificados e bem pagos[20] e, ao mesmo tempo, uma crescente procura por trabalhadores manuais de baixa qualificação e remuneração. Dá-se então, uma bifurcação na estrutura do emprego das economias avançadas quanto ao salário, condições de trabalho, segurança e estabilidade.
É nesse quadro, via a emigração, que se opera a troca do trabalho que dá prestígio no Brasil pelo trabalho que paga melhor no exterior. Os emigrantes brasileiros, ainda que inseridos no mercado de trabalho informal dos países onde residem, conseguem rendimentos cerca de três a quatro vezes superiores aos que alcançariam no Brasil. Segundo a antropóloga Maxine Margolis (1994), a diferença entre o que os brasileiros ganham em uma semana nos Estados Unidos e o que ganhariam no Brasil é de quatro para um, ou seja, aquilo que os brasileiros ganham em uma semana nos Estados Unidos equivale ao rendimento de quatro semanas de trabalho no Brasil. No Japão, esta relação chega a ser de 5 a 10 vezes maior. Essa é, no entanto, uma ascenção truncada, pois geralmente significa a troca de status pela possibilidade de consumo maior[21].
Na década de 1980, o fluxo migratório de saída era oriundo principalmente das regiões Sudeste e Sul do Brasil representando aproximadamente 90% de todo o fluxo de saída. Na década de 1990, o fluxo oriundo dessas regiões caiu para aproximadamente 79%. Esse declínio ocorreu em função do aumento significativo da emigração da região Norte para a Guiana Francesa, Venezuela, Bolívia, Guiana e Suriname, e do aumento também significativo da emigração da região Nordeste para a Europa e para os Estados Unidos. Além disso, a emigração para os Estados Unidos tornou-se mais diversificada, incluindo novos estados de origem, como Goiás e vários estados do Nordeste.
Na metade da década de 1990, o fluxo de São Paulo para o Japão aumentou com a emigração dos
dekasseguis[22]. A partir de 1990, inverteu-se a direção do movimento populacional entre o Brasil e o Japão. O fluxo em novo sentido foi fortalecido por mudanças na concessão de vistos de residência para filhos e netos de japoneses. Os vistos, concedidos por período de 3 a 5 anos, eram renováveis e tinhamo intuito de atrair trabalhadores que pudessem suprir a carência de mão de obra na crescente indústria japonesa.
Cada vez mais os brasileiros que emigram são oriundos dos centros urbanos e fazem parte das camadas médias da população. Hoje, mais de 16 estados brasileiros contribuem de forma expressiva para esse fluxo emigratório, sendo que os estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina são os cinco estados mais representativos nesse movimento. No Censo Demográfico de 2010, o IBGE registrou a região Sudeste como a principal origem do fluxo emigratório com aproximadamente 49% dos emigrantes. São Paulo enviou 21,6% dos emigrantes, seguido de Minas Gerais, com 16,8%. O Rio de Janeiro, com 7,1%, ficou na quinta posição. Da região Sul partiram 17,2% dos brasileiros emigrantes, sendo 9,3% oriundos do Paraná, terceiro estado em importância na emigração. A região Nordeste contribuiu com 15%, com destaque para o estado da Bahia (5,3%). A região Centro-Oeste foi a origem de 12% dos emigrantes, sendo Goiás, com 7,2%, o quarto estado em emissão de pessoas. A região Norte foi origem de apenas 6,9% da emigração.
O mesmo Censo, registrou 193 países de residência dos brasileiros, os primeiros 25 concentravam 94% do total de emigrantes. Os principais países de destino desse fluxo são os Estados Unidos (24%) – cujo fluxo é oriundo de Minas Gerais (43%), Rio de Janeiro (31%), Goiás (23%), São Paulo (20%) e Paraná (17%) – seguido de Portugal (13%), segunda opção para os emigrantes oriundos de Minas Gerais (21%) e do Rio de Janeiro (9%). A Espanha (9%), Japão (7%), Itália (7%) e Inglaterra (6%) representam os outros países de maior concentração de emigrantes brasileiros. A Espanha é a segunda opção de destino para os goianos (20%), enquanto o Japão continua recebendo, na sua maioria, emigrantes oriundos de São Paulo e Paraná, respectivamente 20% e 15%. Finalmente, os países vizinhos (Guiana Francesa, Venezuela e Bolívia), recebem emigrados do Amapá, Roraima e Acre, enquanto os países das fronteiras centro-sul (Argentina, Paraguai e Bolívia) são destinos para emigrantes do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
QUANTOS SOMOS E ONDE VIVEMOS
A mensuração dos emigrantes brasileiros em um determinado país é difícil porque (1) os registros sobre as saídas de brasileiros são muito precários; (2) poucos são os países que têm estatísticas confiáveis sobre o número de imigrantes em seu território, já que muitos estão em condições irregulares; e (3) o tipo de informação obtida refere-se ao estoque, isto é, ao volume acumulado de imigrantes residentes no país na data do censo. Assim, as informações sobre o número de brasileiros vivendo no exterior são contraditórias e, dependendo da fonte, apresentam grande variação, como veremos a seguir.
Utilizando técnicas indiretas, o pesquisador José Alberto Magno de Carvalho (1996), com base nos censos brasileiros de 1980 e 1991, estimou que 1,8 milhões de pessoas com mais de dez anos de idade deixaram o país na década de 1980. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) “descobriu” no censo brasileiro de 1991 uma ausência estatística de cerca de 1,4 milhões de pessoas entre as idades de 20 e 44 anos. Carvalho (2004), considerando o saldo migratório internacional do Brasil entre 1990 e 2000, referente à população com 10 anos ou mais de idade, calcula que este saldo seria negativo em aproximadamente 500 mil pessoas.
Entretanto, mesmo com toda dificuldade de estimar os saldos migratórios, pode-se dizer com alguma certeza que de 1980 a 2000, o Brasil perdeu no mínimo uma população de aproximadamente 2 milhões de pessoas. O Ministério das Relações Exteriores estima que em 2022 cerca de 4,5 milhões de imigrantes brasileiros estavam concentrados em grande parte na América do Norte (45,19%), Europa (32,42%), América Central e Caribe (0,18%), América do Sul (14,06%), Ásia (4,83%), África (0,87%), Oriente Médio (1,29%) e Oceania (1,16%). Na América do Norte, os Estados Unidos têm a maior concentração de imigrantes brasileiros, representando cerca de 41,3% do total dos imigrantes brasileiros e 91,4% da população brasileira do continente. O Canada e o México seguem a distancia, com 6,4% e 2,2%, respectivamente. Clicar nos links a seguir para acessar os documentos do MRE, a evolução da população brasileira no exterior e o mapeamento dos dados.
A evolução do número de brasileiros imigrantes nos países da América do Sul indica, principalmente a partir de 1980, uma nova situação do Brasil no contexto regional. O Paraguai tornou-se o país da região com maior concentração de imigrantes brasileiros (39,3%), seguido da Argentina (13,9%), Guiana Francesa (14,1%), Uruguai (9,1%), Bolívia (8,7%) e Suriname, Chile e Colômbia com (4,6%), (2,9%) e (1,8%) respectivamente.
A imigração brasileira para a Europa tem se intensificado nos últimos vinte anos. Portugal (24,1%), Reino Unido (14,7%), Itália (10,5%), Espanha (11,1%), Alemanha (10,7%), França (6,0%), Suiça (4,3%), Irlanda (5,4%) e Países Baixos
(5,1%) abrigam os maiores contingentes populacionais brasileiros no continente.
Na Ásia, o Japão é o país com quase a totalidade da população brasileira residente no continente (93,2%), constituindo a terceira maior comunidade imigrante nesse país.
As populações de brasileiros na África, no Oriente Médio e na Oceania são bastante pequenas e concentradas em poucos países. Na África, Angola reúne 68,2% da população brasileira do continente. O Líbano (35,4%), Israel (23,6%), Palestina (10,1%) e os Emirados Árabes Unidos (16,3%) acolhem a maioria da população brasileira do Oriente Médio. Já na Oceania, 87,3% dos imigrantes brasileiros vivem na Austrália e os outros 12,7% na Nova Zelândia.
Como apontado anteriormente, o Ministério das Relacões Exteriores do Brasil (MRE) estima a existência de cerca de 4,5 milhões de emigrantes brasileiros no ano de 2022 – um crescimento de 2,6 milhões em uma década. Essas estimativas, como explica o MRE, “buscam levar em conta vários fatores, como: dados oficias fornecidos por autoridades migratórias locais; censos oficiais; número de eleitores registrados na jurisdição, número de matriculados nos consulados; sondagens junto à comunidade; solicitações de passaportes e outros documentos por brasileiros; movimento geral da repartição e de consulados itinerantes; dados disponíveis sobre a saída do país e retorno de brasileiros; percentuais de redução de remessas; publicações da Organização Internacional para Migrações (OIM); estudos da OCDE; trabalhos acadêmicos e artigos na imprensa além da compilação das respostas à pergunta específica que constou do último censo oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 sobre o número de familiares residentes em outros países.
O Censo Brasileiro de 2010 incluiu um bloco de perguntas visando conhecer de forma mais detalhada o fenômeno da emigração brasileira. O IBGE estima que 491.645 brasileiros vivem no exterior, reconhecendo que este número sub-enumera tal população. Entre outros fatores para essa sub-enumeração, o IBGE cita a possibilidade de que (1) todas as pessoas que residiam em determinado domicílio tenham emigrado; (2) que aquelas que ficaram no território brasileiro tenham falecido; ou (3) que aqueles que há muito tempo encontram-se no exterior tenham sido desconsiderados.
Finalmente, a Organização Internacional para as Migrações – OIM no seu Perfil Migratório do Brasil de 2009 estimou que há entre 2,5 milhões a 4 milhões de brasileiros vivendo fora do país, na sua maioria nos Estados Unidos, Paraguai, Japão, Reino Unido e Portugal.
Como pode ser inferido, a base de estimativa da população brasileira emigrante é bastante precária, variando de fonte a fonte em escala bastante apartada.
AMÉRICA DO NORTE
Segundo o Ministério das Relações Exteriores (2022), na América do Norte, os Estados Unidos têm a maior concentração de imigrantes brasileiros. Os 1,9 milhões de brasileiros que residem no país representam cerca de 42,1% dos imigrantes brasileiros e 91,4% da população brasileira no continente. O Canadá e o México seguem à distância, com 133 mil pessoas (6,4%) e 45 mil (2,2%), respectivamente.
No entanto, o American Community Survey (ACS), uma pesquisa anual do U.S. Census Bureau, registrou somente 569.325 brasileiros
residentes nos Estados Unidos em 2020.
Embora a imigração brasileira nos Estados Unidos ainda esteja concentrada nos estados da Flórida, Massachusetts, Nova Jersey, Nova York e Califórnia, ela tem conhecido uma grande dispersão nas últimas décadas, fato este que não se dá, pelo menos com a mesma intensidade, no Canadá e muito menos no México. A maioria dos brasileiros que emigram para o Canadá vive em Toronto em e aqueles residentes no México concentram-se na região metropolitana da Cidade do México.
AMÉRICA CENTRAL E O CARIBE
A população brasileira da América Central e Caribe em 2022, segundo estimativas do Ministério das Relações Exteriores, soma somente 9.465 pessoas representando 0,21% da população brasileira no exterior.
O Panamá e a Cpsta Tica são as maiores comunidades brasilerias desta região com 4.000 brasileiros residindo no Panamá e 1.500 na Costa Rica seguidos da República Dominicana (900), Guatemala e El Salvador ambos com 500 brasileiros, Honduras (350), Niguarágua (300), Jamaica (260) e a Bahamas (250).
AMÉRICA DO SUL
A evolução do número de brasileiros nos países da América do Sul indica, principalmente a partir de 1980, uma nova situação do Brasil no contexto regional.
Segundo registros do Ministério das Relações Exteriores em 2022, o número de brasileiros residindo no Paraguai era de 254.000 pessoas tornando-se assim o país com a maior concentração de imigrantes brasileiros no continente (39,3%). A Argentina com 90.320 abriga (13,9%) dos brasileiros residentes na região, seguida pela Guiana Francesa com 91.500 (14,1%), Uruguai 59.090 (9,1%), Bolívia 56.500 (8,7%). Suriname 30.000 (4,6%), Chile 19.300 (2,9%) e Colômbia com 12.000 (1,8%).
O Censo Brasileiro de 2010 registrou 8.631 brasileiros vivendo na Argentina, seguida pela Bolívia (7.919), Paraguai (4.926), Guiana Francesa (3.822), Suriname (3.416), Venezuela (2.297), Chile (2.297) e Uruguai (1.703).
EUROPA
O primeiro fluxo importante da emigração brasileira para a Europa, por razões históricas e culturais, diz respeito à entrada de brasileiros em Portugal. Esse fluxo se consolidou durante a década de 1990 e permaneceu relativamente estável até o final da década de 2000. Os dados mais recentes do MRE contam Portugal com uma população de 360.000 ou 24,1% da população brasileira do continente. O Reino Unido vem em segundo lugar com uma população brasileira imigrante de 220.000 pessoas (14,7%). A Itália ocupa a terceira posição com 157.000 brasileiros (10,5%) seguida da Espanha com 165.000 (11,1%), Alemanha 160.000 (10,7%),
França 81.400 (6,3%), Suíça 64.000 (4,3%), Irlanda 80.000 (5,4%) e os Países Baixos que abrigam 76.500 brasileiros ou cerca de 5,1% dos brasileiros residentes no continente.
Em linhas gerais, de acordo com o documento Perfil Migratório do Brasil, citado anteriormente, com exceção dos fluxos mais antigos para Portugal, a população brasileira imigrante na Europa é composta basicamente por jovens adultos entre 20 e 40 anos, de ambos os sexos, com escolaridade elevada (em média, mais de 50% dos brasileiros em todos os países europeus têm pelo menos 13 anos de estudo). Com exceção de Portugal, a maior parte dessa emigração não se constitui por famílias e apresenta elevado índice de emigrantes em situação irregular.
Pode-se ressaltar ainda que fatores históricos e culturais influenciam os deslocamentos para a Europa, com o exemplo de emigrantes brasileiros da atualidade percorrendo o caminho inverso que imigrantes portugueses, espanhóis, alemães e italianos percorreram no passado.
No Reino Unido, a maioria dos brasileiros reside em Londres. Em Portugal, concentram-se em Lisboa e seus arredores. Na Espanha, em Madri e Barcelona; na Alemanha, aglomeram-se na grande Berlin; na Itália, estão na sua maioria em Roma; e na França, em Paris.
O Censo Brasileiro de 2010 – IBGE registrou Portugal (65.969), Espanha (46.330), Itália (34.652), Reino Unido (32.270), França (17.743), Alemanha (16.637) e Suíça (12.120) como os países europeus com maior concentração de brasileiros.
ÁSIA
Na Ásia, o Japão, com 206.990 brasileiros[23], é o país com quase a totalidade da população brasileira residente neste continente (93,2%), constituindo-se ainda na terceira maior comunidade imigrante neste país. No final da década de 1980, filhos e netos dos japoneses chegados ao Brasil no início do século XX, emigraram para o Japão em busca de trabalho. Esse fluxo migratório é bastante singular porque a grande maioria desses brasileiros possuem status migratório regular como trabalhadores contratados por empresas japonesas. Ver Brasileiros no Japão.
Por serem descendentes dos japoneses que há um século atrás emigraram para o Brasil, eles são provenientes das mesmas regiões de destino de seus pais ou avós (Paraná e São Paulo). Como anteriormente citado, no Japão, os imigrantes brasileiros ficaram conhecidos como dekasseguis. A palavra dekassegui (em japonês 出稼ぎ) é formada pela união das palavras 出る (“deru“, que significa sair) e 稼ぐ (“kasegu“, que significa para trabalhar, ganhar dinheiro trabalhando), tendo como significado literário o conceito de estar “trabalhando distante de casa” e designa qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país). Segundo Carvalho (2003), os emigrantes dekasseguis apresentam nível de escolaridade mais elevado entre todos os emigrantes brasileiros. O mesmo autor observa ainda que há um relativo equilíbrio entre homens e mulheres, com os primeiros representando 54,8% da população imigrante brasileira para o Japão em 2006. Sasaki (2008), pesquisadora da emigração no eixo Brasil–Japão, chama atenção para o fato de que se em 1996 a população de brasileiros no Japão era constituída na sua maioria por jovens casados e chefes de família que deixavam o Brasil para uma estadia temporária e breve retorno, em 2006 passou-se a observar a emergência de um grupo de jovens, homens e mulheres, muitos deles com a pretensão de permanecer definitivamente no Japão.
O Censo Brasileiro de 2010 estimou que 43.912 brasileiros viviam na Ásia, 36.202 destes no Japão e 2.209 na China, com o restante distribuído pelos demais países asiáticos.
ÁFRICA
As populações de brasileiros na África, Oriente Médio e Oceania são bastante pequenas e concentradas em poucos países.
Na África, segundo estimativas do MRE, Angola tem uma população de 27 mil brasileiros, representando 68,2% dos brasileiros residentes no continente seguido pela África do Sul com 3.910 e Moçambique com 3.000 brasileiros representando 9,9% e 7,6% da população do continente.
ORIENTE MÉDIO
Entre os países do Oriente Médio, as estatísticas do Ministério das Relações Exteriores apresentam o Líbano como maior comunidade de brasileiros, com 21 mil brasileiros (35,5%), seguido por Israel, com 14 mil (23,6%). Emirados Árabes Unidos com 9.630 (16,3%), Palestina com 6.000 (10,1%), acolhem a maioria da população brasileira no Oriente Médio.
A maioria dos brasileiros que vivem no Líbano e na Palestina são são de origem libanesa e palestina.
OCEANIA
Na Oceania, 46.630 (87,3%) dos imigrantes brasileiros residem na Austrália e os outros 6.666 (12,7%) na Nova Zelândia. Embora a população brasileira nestes dois países seja pequena, nos últimos dez anos elas vêm crescendo. Por exemplo, na última década, a migração de brasileiros teve o segundo mais rápido crescimento na Austrália, e o número de brasileiros neste país dobra a cada cinco anos desde 2000 (ABS, 2021). Da mesma forma, mais da metade dos brasileiros que residem na Nova Zelândia chegaram ao país nos quatro últimos anos (Stats NZ, 2018).
Estimativas do Ministério das Relações Exteriores (2008 – 2022): Documentos do MRE
Texto baseado, em parte, no livro Brasileiros nos Estados Unidos – Meio Século (Re)fazendo a América.
OS AUTORES:
Alvaro Eduardo de Castro e Lima, nascido em São Luís do Maranhão é Diretor de Pesquisa no Boston Planning & Development Agency (BPDA). Economista de formação com mestrado na New School for Social Research em Nova York.
Alanni de Lacerda Barbosa de Castro cresceu em Codisburgo, no interior de Minas Gerais. Administradora de empresas e mestre em Administração pela PUC Minas, possui também especializações em cooperativismo e gestão de projeto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAENNGER, Rosana. 2003. “O Brasil na Rota das Migrações Internacionais Recentes.”Jornal da Unicamp. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2003/ju226pg2b.html.
BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. Desenvolvimento capitalista no Brasil: ensaios sobre a crise. Brasiliense, 1983.
BELTRÃO, Kaizô Iwakami; SUGAHARA, Sonoe; KONTA, Ryohei. Trabalhando no Brasil: características da população de origem japonesa segundo os censos entre 1980 e 2000. Anais, p. 1-20, 2016.
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores – MRE; Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior – DCB; Divisão de Assistência Consular – DAC. Brasileiros no Mundo – Estimativas. Subsecretaria Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior – SGEB, 2008.
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores – MRE; Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior – DCB; Divisão de Assistência Consular – DAC. Brasileiros no Mundo – Estimativas. Subsecretaria Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior – SGEB, 2008.
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↑1 | Imigração no Brasil por Nacionalidade |
---|---|
↑2 | Firmeza, George Torquato, (2007), Brasileiros no Exterior. Brasília: FUNAG |
↑3 | A emigração brasileira é, no entanto, muito pequena quando comparada à população residente. Por exemplo, a população emigrante brasileira representa apenas 0,53% da população residente, fazendo o Brasil ocupar a posição 195 no ranking dos 200 países com saldo migratório negativo, ficando à frente somente da Líbia, posição 196 (0,49%); China, posição 197 (0,43%); Bahamas, posição 198 (0,36%); República Centro Africana, posição 199 (0,17%); e Coréia do Norte, posição 200 (0,16%). (DORLING, 2009) |
↑4 | Na América Latina, o Brasil figurava até a década de 1970 como uma área de evasão populacional para os países vizinhos, em especial para o Paraguai e a Argentina. A partir da década de 1980, o país passa a se configurar como uma das áreas de recepção migratória de latino-americanos. (BANINGER, 2005) |
↑5 | Ver em: Estimativas 2020 |
↑6 | MARGOLIS, M.L. (1994): Little Brazil: An Ethnography of Brazilian Immigrants in New York. Princeton. NJ. Princeton University. |
↑7 | SALES, T., (1998). Brasileiros Longe de Casa. São Paulo, Editora Cortez. |
↑8 |
Comumente, a década de 1980 é chamada de “década perdida” no que se refere ao desenvolvimento econômico de muitas nações. Vivido pelo Brasil e por outros países da América Latina, essa fase de estagnação formou-se com uma retração agressiva da produção industrial. Na maioria dessas nações, os anos 80 representam o mesmo que crise na economia, inflação, crescimento baixo do Produto Interno Bruto (PIB), volatilidade de mercados e aumento da desigualdade social. |
↑9 | BROOKE, James. (1993). Brazil Wild Wyas to Counter Wild Inflation. New York: The New York Times. |
↑10 | Segundo a socióloga Peggy Levitt (2001), “the assumption that people live their lives in one place, according to one set of national and cultural norms, in countries with impermeable national borders, no longer holds”. In Levitt P., The Trasnnational Villagers, 2001. Los Angeles and Berkley: University of California Press. |
↑11 | BELLUZZO, Luis Gonzaga de Mello e Coutinho, Renata (Org.). Desenvolvimento Capitalista no Brasil. Campinas: UNICAMP. IE. 1998, V.I. |
↑12 | Em 1981, por exemplo, o desemprego aberto atingiu a taxa de 10%. (PASTORE, 1979) |
↑13 | Foi instituído o Plano Collor, que agravou mais ainda a situação, causando revolta na população não só pelas medidas econômicas, mas pelo esquema de corrupção atribuído ao então Presidente. Essas insatisfações deram origem à mobilização inédita dos “caras-pintadas,” que culminou no impeachment de Collor. |
↑14 | BRITO, Fausto. (1995). Os Povos em Movimento – As Migrações Internacionais no Desenvolvimento do Capitalismo, em Neide Patarra. (Cord.). Emigração e Imigração Internacionais no Brasil Contemporâneo. Campinas: FNUAP. |
↑15 | MARTES, Ana Cristina Braga. (1999). Brasileiros nos Estados Unidos – Um Estudo Sobre Imigrantes em Massachusetts. São Paul: Editora Paz e Terra. |
↑16 | Synovate Brasil – Imigrantes Brasileiros Residentes nos Estados Unidos (2007). |
↑17 | Synovate Brasil – Remetentes e Beneficiários – Massachusetts e Microrregião de Governador Valadares (2008). |
↑18 | LIMA & CASTRO, 2017 |
↑19 | LIMA & PLASTRIK, 2007 |
↑20 | PIORE, 1980 |
↑21 | SALES, 1999 |
↑22 | A palavra dekassegui (em japonês 出稼ぎ) é formada pela união das palavras japonesas 出る (deru, que significa “sair”) e 稼ぐ (kasegu, que significa “para trabalhar, ganhar dinheiro trabalhando”). O termo tem como significado literário o conceito de estar “trabalhando distante de casa” e designa qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país. |
↑23 | Atual Secretaria do Trabalho |
↑24 | MRE, 2014 |
↑25 | FERNANDES, 2008 |
↑26 | BELTRÃO et al, 2006 |
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