TRANSNACIONALISMO

A migração assume cada vez mais um caráter transnacional, isto é, os imigrantes mantêm relações econômicas, sociais e políticas cada vez mais robustas com os seus países de origem e entre si em diferentes países, aumentando assim, a complexidade e impacto dos movimentos migratórios. Essas relações podem ser certificadas não somente no caso econômico, pelas remessas de dinheiro (remittances), mas também pelas remessas sociais (social remittances) como ideias, comportamentos e valores que, da mesma forma que as remessas econômicas, num constante vai e vem, desafiam noções de fronteiras e de culturas nacionais rígidas. 

Segundo Peggy Levitt, “the assumption that people live their lives in one place, according to one set of national and cultural norms, in countries with impermeable national borders, no longer holds” (Levitt, 2001). Enquanto transnacionais, os imigrantes envolvem-se em atividades além-fronteiras, construindo assim “campos sociais” – relativamente estáveis, duráveis, e densamente interligados – que conectam os seus países de origem àqueles onde vivem. Essas conexões são estruturadas por meio da circulação de ideias, informações, produtos e dinheiro, adicionado ao movimento de pessoas. A qualquer momento os imigrantes estão firmemente assentados num lugar particular – Boston ou Londres, por exemplo – mas suas vidas diárias estão comumente ligadas, interligadas e dependentes de pessoas e recursos localizados em outros lugares. 

A força propulsora do transnacionalismo tem sido o desenvolvimento de tecnologias que tornaram o transporte e a comunicação infinitamente mais acessíveis, mudando radicalmente a relação entre tempo e espaço. É possível hoje, como nunca antes, a manutenção de relações frequentes e contato mais próximo entre os imigrantes e suas sociedades de origem via ferramentas e aplicativos como Skype, WhatsApp e Facebook, assim como pelos meios de transporte, cada vez mais rápidos e baratos. 

O transnacionalismo é uma tendência crescente na vida global. E, à medida que essa tendência cresce e se espalha, lança novas dinâmicas que desafiam o ideal de “assimilação” do imigrante. Da mesma forma, anula o pensamento político restrito de um estado-nação homogêneo e monocultural. Tradicionalmente, a imigração é concebida como um deslocamento único (de lá pra cá) ao invés de fluxos mais ou menos constantes que cruzam fronteiras econômicas, políticas e sócio-culturais (vivendo aqui e lá).

 A remessa de dinheiro é o comportamento transnacional mais bem documentado. Imigrantes espalhados mundo afora enviaram, em 2015, cerca de 435 bilhões de dólares para as suas famílias nos seus países de origem (World Bank, 2015). Esse não é um comportamento novo, pois os imigrantes dos últimos séculos também enviavam dinheiro para as suas famílias. Mas, o que era uma gota, virou uma enxurrada capaz de impactar economias em desenvolvimento. Essa realidade transnacional está também transbordando para o âmbito político. Imigrantes, mais do que nunca, são autorizados a votar em eleições em seus países de origem, candidatarem-se a cargos eletivos e contribuírem financeiramente para campanhas políticas. Em reconhecimento a essa realidade, políticos dos países de origem e destino competem por tal apoio. O transnacionalismo penetra da mesma forma o mundo econômico. O Council on Competitiveness dos Estados Unidos, em 2007, relatou que imigrantes residentes nos Estados Unidos são proprietários de 25% de todas as empresas públicas financiadas com capital de risco (venture capital); 47% de todas as empresas financiadas com esse tipo de capital e mais da metade das startups do Vale do Silício. Várias destas empresas, diferentemente dos pequenos negócios tradicionais dos imigrantes, operam nos mercados nacional e global. Além disto, um número cada vez maior de imigrantes tem empresas ou investem em empresas nos seus países de origem. Por exemplo, 39% das empresas alojadas no parque industrial de Hsinchu, nas proximidades de Tapei, foram fundadas por engenheiros taiwaneses educados nos Estados Unidos e com experiência profissional no Vale do Silício. Das 289 empresas do parque, 70 mantêm escritórios no Vale do Silício para facilitar a contartação de profissionais, para obter tecnologia, capital e explorar oportunidades de negócios. 

Os imigrantes brasileiros não estão à parte de tal fenômeno. Utilizando o framework dos “5 Ts” desenvolvido por Manuel Orozco (2005), pesquisas realizadas pelo mesmo autor com imigrantes latino americanos e caribenhos, e dados da pesquisa com imigrantes brasileiros de Lima e Plastrik (2007), um índex de transnacionalidade, isto é, o nível de engajamento em atividades transnacionais, foi construído de forma a medir e comparar a transnacionalidade entre esses grupos. O framework dos “5 Ts” mede a participação dos imigrantes em cinco atividades transnacionais: (1) Transportation – viagens aéreas como forma de comunicação entre os imigrantes e suas famílias; (2) Tourism – atividades econômicas dos imigrantes quando nos seus países de origem; (3) Telecommunications – telefonemas dos imigrantes para as suas famílias, amigos e associados nos seus países de origem; (4) Transfer of Money and Capital – atividades econômicas que tomam formas via as remessas de dinheiro e investimentos, e (5) Nostalgic Trade – produtos oriundos dos países de origem fornecidos aos imigrantes por empresas locais. Além desses cinco aspectos, também foram considerados os recursos enviados pelos imigrantes para associações, na maioria dos casos filantrópicas, nas suas cidades de origem (Philanthropic Transfers). 

Utilizamos dados do American Community Survey (ACS 2010 e ACS 2006- 2010) sobre os donos de pequenos negócios definidos como indivíduos donos de uma empresa incorporada cuja ocupação principal é a administração deste negócio viu-se que os imigrantes brasileiros demonstram um nível de transnacionalismo um pouco inferior ao dos outros imigrantes latinos e caribenhos. Essa diferença entre os brasileiros e os outros imigrantes latinos e caribenhos pode ser explicada pelo número maior de imigrantes indocumentados entre os brasileiros, o que dificulta os deslocamentos ao país de origem (Transportation and Tourism). Porém, constata-se que nos scores referentes a Telecommunications, Transfer of Money and Capital, Nostalgic Trade e Philanthropic Transfers os imigrantes brasileiros se equiparam ou, em alguns casos, ultrapassam os níveis dos outros imigrantes. 

Por fim, vale salientar o envolvimento dos governos reforçando essas relações transnacionais. O papel dos governos e instituições não governamentais, tanto dos países de origem quanto acolhimento, no que diz respeito às questões relacionadas à migração transnacional passa pela criação de políticas públicas que promovam sociedades mais includentes.

Engagement Policies in Favour of Trasnantionalism: The Expansion of Trasnational Citizenship Within Colobian Emigrants

 

Yolanda Gonzalez-Rabago, 2015.

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Transnational Imigration: Visualizing Diasporas

 

Alvaro Lima, 2013.

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Transnationalism:
A New Mode of Immigrant Integration

 

Alvaro Lima, 2010.

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Transnationalism:
What It Means to Local Communities

 

Alvaro Lima, 2010.

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Assimilation and Transnationalism: Determinants of Transnational Political Action Among Contemporary Migrants

 

Luis Eduardo Guarnizo, Alejandro Portes, William Haller, 2003.

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The Spatial Spanning of the Social: Transnationalism as a Challenge and Chance for Social Science(s)

 

Ludger Pries, 2002.

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Transnational Networks and Skilled Labour Migration

 

Steven Vertovec, 2002.

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The Transnational Villagers

 

Peggy Levitt, 2001.

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