PORQUE OS BRASILEIROS VOLTAM – O RETORNO
INTRODUÇÃO
O artigo “O sonho frustrado e o sonho realizado: as duas faces da migração para os EUA”, de Sueli Siqueira, apresenta quatro tipos de retorno. O primeiro é o “retorno temporário”, quando o imigrante define os Estados Unidos (ou outro país qualquer) como seu local de residência, juntamente à sua família assim como o local para seus investimentos. Neste caso, o imigrante vai ao Brasil para passar férias ou participar de festas como casamentos ou aniversários, por exemplo. Levam consigo seus filhos, estes geralmente documentados. O segundo tipo de retorno é o “retorno continuado.” Segundo essa definição, os que retornam á origem investem e acabam perdendo tudo. Isto os motiva a re-emigrarem, mantendo com eles o projeto de voltar. Segundo Siqueira (2007), 48,6% dos imigrantes pesquisados que retornaram à cidade natal não obtiveram sucesso em seus empreendimentos. Assim, emigraram novamente. Não incomum, são os que empreendem a viagem da migração diversas vezes durante a vida.
O “retorno do transmigrante” é o terceiro tipo de retorno identificado pela mesma autora. Este é o caso vivenciado por, atualmente, um grande número de imigrantes que vivem a transnacionalidade. São pessoas, geralmente documentadas e com estabilidade financeira, que vivem parte do ano no país de destino, no caso da pesquisa citada, os Estados unidos, e outra parte do ano no Brasil. Este grupo participa da vida social e econômica dos seus países de origem e destino, possuindo, muitas vezes, fontes de renda nos dois países.
O quarto tipo de retorno descrito pela autora é o retorno permanente”. Nessa condição, o imigrante que retornou ao Brasil conseguiu se readaptar e se reestabelecer financeira e socialmente, não pretendendo emigrar novamente. São, geralmente, os que obtêm sucesso em seus empreendimentos, atribuindo ao projeto migratório a responsabilidade por serem bem-sucedidos.
O retorno deixa de ser uma “opção” em casos de deportação. Nessa situação o imigrante não pode arbitrar sobre a sua permanência no país de acolhimento. Não cabe a ele decidir se retornará ao seu país de origem ou se continuará sua jornada. Em situações de deportação, o retorno é involuntário, não significando, porém, que não haverá um novo período no exterior. Essa nova jornada migratória, por vezes, se destina a outro país. No entanto, também é comum a nova busca pelo mesmo país de onde foi deportado.
O retorno dos brasileiros pode ser aferido pelo número daqueles que na data dos censos demográficos de 1990, 2000 e 2010 residiam no Brasil, mas que retornaram ao país cinco anos antes do censo. Entre os censos de 1990 e 2000, verificou-se um incremento de 182% desse contingente, ou seja, em 1991, 31.124 pessoas declararam um país estrangeiro de residência cinco anos antes da data de referencia do censo, enquanto que em 2000 esse número era de 87.400 pessoas. Segundo Wilson Fusco e Sylvain Souchaud (2010), o fluxo de retornados brasileiros desse período, ainda que bastante diversificado, concentrou-se em três países, Paraguai, Japão e Estados Unidos, responsáveis por cerca de 60% do movimento de retorno.
Os autores analisaram o retorno com base nos dados do Censo de 2000 (IBGE), que indica a distribuição dos retornados por município, definidos em função do país de nascimento e residência no momento do censo, e da declaração da última residência em país estrangeiro nos dez anos anteriores ao censo.
O retorno do Paraguai constitui o maior fluxo de brasileiros retornados. Em 2000, 50.201 pessoas nascidas e residentes no Brasil declararam residência anterior no Paraguai, representando 26,8% do total da população brasileira retornada. De uma forma geral, os retornados têm um nível educacional mais elevado do que o observado para os não-migrantes, com exceção dos retornados do Paraguai, que têm um nível próximo do encontrado para os não-migrantes residentes em zonas rurais (instrução fundamental incompleta) e salários inferiores aos da população residente. Tal fenômeno pode ser explicado pela origem de tais retornados, que são na sua maioria agricultores. No entanto, os retornados da Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão tinham pelo menos o terceiro grau completo e salários superiores aos dos brasileiros morando em áreas metropolitanas.24
De acordo com Fernandes (2008), em geral, os retornados dos países vizinhos estão na sua maioria trabalhando por conta própria e em atividades de um perfil de menor remuneração enquanto que aqueles retornados dos Estados Unidos e da Europa estão ocupados em atividades em geral, melhor remuneradas. O mapa abaixo ilustra a distribuição dos retornados do Paraguai segundo o município de residência em 2000. Como podemos ver, grande parte deles estão concentrados nos estados do Paraná (61,8%), Mato Grosso do Sul (16,3%), Mato Grosso (5,4%), Santa Catarina (5,4%), São Paulo (3,8%), Rio Grande do Sul (3,5%) e Rondônia (1,1%).
O Paraná não só é o lugar de nascimento de muitos migrantes, mas também o lugar de última residência anterior ao ingresso no Paraguai. Muitas vezes, gaúchos, catarinenses e baianos, por exemplo, vivem por indeterminado período de tempo no Paraná antes de emigrar para o Paraguai. O Rio Grande do Sul, assim como o Paraná, é um lugar onde a expansão da fronteira agrícola, nos anos 1980 e 1990, expulsou muitas famílias que alimentaram as camadas mais pobres da população brasileira imigrante no Paraguai. Diferentemente destes dois estados, que na sua grande maioria recebem retornados natos, os estados do Mato Grosso e Rondônia recebem retornados em busca de oportunidades e empregos ligados ao crescimento e dinamismo da agricultura comercial, principalmente aquela ligada à soja.
Ainda de acordo com Fusco e Souchaud (2010), os retornados do Japão formam o segundo maior grupo, contando com 17% do total dos retornados (31.775 pessoas). Ainda que perto do número de retornados dos Estados Unidos, a comunidade brasileira no Japão é muito menor do que esta última. Tal fenômeno pode ser explicado pelo fato de a lei de imigração japonesa permitir múltiplos retornos, enquanto que a população brasileira indocumentada nos Estados Unidos raramente se arrisca a um retorno temporário.
O mapa a seguir, ilustra a distribuição dos retornados do Japão, segundo o município de residência em 2000. Podemos observar que a maioria desses retornados, mais de 80%, volta a residir nos mesmos estados marcados pela imigração japonesa para o Brasil – São Paulo e Paraná. Em menor proporção, eles seguem para Minas Gerais e Rio de Janeiro. Aqueles que voltam para o Pará são originários da antiga colônia Acará, atualmente Tomé-Açu.25 O retorno dos Estados Unidos, o terceiro maior, registrou um volume de 29.591 pessoas (16% do total de brasileiros retornados) segundo o censo de 2000. O número grande de imigrantes brasileiros indocumentados nos Estados Unidos dificulta não só a sua contagem no país de destino, mas também sua contagem no momento do retorno.
Os retornados dos Estados Unidos voltam predominantemente para São Paulo (7.495), Minas Gerais (6.241) e Rio de Janeiro (4.971). Em seguida, verifica-se sua presença no Paraná (1.755), Rio Grande do Sul (1.468), Distrito Federal (1.269) e Goiás (1.266).
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A maioria dos retornados dos Estados Unidos (97,2%) e Japão (94,4%) retornam para zonas urbanas, enquanto os retornados do Paraguai apresentam um menor índice de domicílios urbanos (72%). Quando consideramos também suas ocupações no momento do retorno, a maioria daqueles que voltam dos Estados Unidos trabalham nos setores da educação (19,8%), comércio (15%) e atividades imobiliárias (13%). Os retornados do Paraguai apresentam uma grande participação no setor da agricultura (32%), seguido de ocupações industriais (15%), comércio (13,6%) e serviços domésticos (12%). Os brasileiros retornados do Japão ocupam com maior frequência posições nos setores comercial (29,7%), industrial (12,5%) e agrícola (10,6%).
Segundo o Censo Brasileiro de 2010, mais de 174 mil emigrantes brasileiros retornaram ao país. Esse é um número bem maior do que o apontado pelo Censo de 2000 (87,4 mil), passando de 61% para 66% o percentual de brasileiros contados entre os imigrantes internacionais chegados ao Brasil.
Dos 51.933 imigrantes brasileiros provenientes dos Estados Unidos, 84% eram brasileiros.
A recente crise de econômica de …. [TEXTO INCOMPLETO]
Estimativas do Ministério das Relações Exteriores (2008 – 2022): Documentos do MRE
Texto baseado, em parte, no livro Brasileiros nos Estados Unidos – Meio Século (Re)fazendo a América
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↑1 | Imigração no Brasil por Nacionalidade |
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↑2 | Firmeza, George Torquato, (2007), Brasileiros no Exterior. Brasília: FUNAG |
↑3 | A emigração brasileira é, no entanto, muito pequena quando comparada à população residente. Por exemplo, a população emigrante brasileira representa apenas 0,53% da população residente, fazendo o Brasil ocupar a posição 195 no ranking dos 200 países com saldo migratório negativo, ficando à frente somente da Líbia, posição 196 (0,49%); China, posição 197 (0,43%); Bahamas, posição 198 (0,36%); República Centro Africana, posição 199 (0,17%); e Coréia do Norte, posição 200 (0,16%). (DORLING, 2009) |
↑4 | Na América Latina, o Brasil figurava até a década de 1970 como uma área de evasão populacional para os países vizinhos, em especial para o Paraguai e a Argentina. A partir da década de 1980, o país passa a se configurar como uma das áreas de recepção migratória de latino-americanos. (BANINGER, 2005) |
↑5 | Ver em: Estimativas 2020 |
↑6 | MARGOLIS, M.L. (1994): Little Brazil: An Ethnography of Brazilian Immigrants in New York. Princeton. NJ. Princeton University. |
↑7 | SALES, T., (1998). Brasileiros Longe de Casa. São Paulo, Editora Cortez. |
↑8 | Comumente, a década de 1980 é chamada de “década perdida” no que se refere ao desenvolvimento econômico de muitas nações. Vivido pelo Brasil e por outros países da América Latina, essa fase de estagnação formou-se com uma retração agressiva da produção industrial. Na maioria dessas nações, os anos 80 representam o mesmo que crise na economia, inflação, crescimento baixo do Produto Interno Bruto (PIB), volatilidade de mercados e aumento da desigualdade social. |
↑9 | BROOKE, James. (1993). Brazil Wild Wyas to Counter Wild Inflation. New York: The New York Times. |
↑10 | Segundo a socióloga Peggy Levitt (2001), “the assumption that people live their lives in one place, according to one set of national and cultural norms, in countries with impermeable national borders, no longer holds”. In Levitt P., The Trasnnational Villagers, 2001. Los Angeles and Berkley: University of California Press. |
↑11 | BELLUZZO, Luis Gonzaga de Mello e Coutinho, Renata (Org.). Desenvolvimento Capitalista no Brasil. Campinas: UNICAMP. IE. 1998, V.I. |
↑12 | Em 1981, por exemplo, o desemprego aberto atingiu a taxa de 10%. (PASTORE, 1979) |
↑13 | Foi instituído o Plano Collor, que agravou mais ainda a situação, causando revolta na população não só pelas medidas econômicas, mas pelo esquema de corrupção atribuído ao então Presidente. Essas insatisfações deram origem à mobilização inédita dos “caras-pintadas,” que culminou no impeachment de Collor. |
↑14 | BRITO, Fausto. (1995). Os Povos em Movimento – As Migrações Internacionais no Desenvolvimento do Capitalismo, em Neide Patarra. (Cord.). Emigração e Imigração Internacionais no Brasil Contemporâneo. Campinas: FNUAP. |
↑15 | MARTES, Ana Cristina Braga. (1999). Brasileiros nos Estados Unidos – Um Estudo Sobre Imigrantes em Massachusetts. São Paul: Editora Paz e Terra. |
↑16 | Synovate Brasil – Imigrantes Brasileiros Residentes nos Estados Unidos (2007). |
↑17 | Synovate Brasil – Remetentes e Beneficiários – Massachusetts e Microrregião de Governador Valadares (2008). |
↑18 | LIMA & CASTRO, 2017 |
↑19 | LIMA & PLASTRIK, 2007 |
↑20 | PIORE, 1980 |
↑21 | SALES, 1999 |
↑22 | A palavra dekassegui (em japonês 出稼ぎ) é formada pela união das palavras japonesas 出る (deru, que significa “sair”) e 稼ぐ (kasegu, que significa “para trabalhar, ganhar dinheiro trabalhando”). O termo tem como significado literário o conceito de estar “trabalhando distante de casa” e designa qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país. |
↑23 | Atual Secretaria do Trabalho |
↑24 | MRE, 2014 |
↑25 | FERNANDES, 2008 |
↑26 | BELTRÃO et al, 2006 |
Brasileiros na América do Norte
Segundo dados do Ministério das Relações Externas do Brasil, em 2022, a América do Norte era residência de cerca de 2 milhões de brasileiros. Os Estados Unidos têm a maior concentração de imigrantes brasileiros na América do Norte – 1,9 milhões de brasileiros – representando cerca de 42% dos imigrantes …
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